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Carta

  • Foto do escritor: àliteração.
    àliteração.
  • 18 de fev. de 2018
  • 3 min de leitura

Atualizado: 21 de fev. de 2018


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Ansioso e romântico, acabo escrevendo sobre o amor, mas de que vale o amor nesse mundo caótico? Se quero pelo menos me fantasiar de escritor, não deveria engajar-me com o mundo e seus acontecimentos? Do mesmo jeito que o Romance de 30, de que serve a arte em um mundo devastado por guerras? E se atualmente seu nome não anuncia que é uma das grandes é porque para quem a entende percebe que é redundante. Engrandeça ou desmereça a guerra, enquanto você luta com palavras ela ainda está lá, acontecendo. Pessoas estão morrendo. Sofrendo. E não só em guerras. Também secas. Enchentes. Terremotos e furacões. Assassinatos e suicídios. Mortes e mais mortes, e tudo que parece que o jornal faz é anunciar. Mesmo que provavelmente vivamos em uma das épocas com menos tragédias, atualmente e de longe, elas são muito mais anunciadas. E mesmo que enfatizados e perplexos de medo pelos acontecimentos afora e internos, por que estão parados? Ou, estão parados? Por que se não estão, eu não vejo ninguém se mexer. Mas se não vejo, talvez não seja porque eu não me mexa? Mas mesmo que não me mexa, veja, ou não veja, o que eu posso fazer? Escrever. Escrever como um adolescente. Como alguém que não sabe nada do mundo, com palavras de baixo valor. E baixo valor só porque são minhas. Se assinasse com o nome de um dos mortos talvez tivesse mais ênfase, mais até do que mereço. Na realidade não sou eu que mereço ênfase, mas o que merece ênfase já é enfatizado, ou é? E se tudo que enfatizam está errado e o errado é que está pouco enfatizado? Isso porque é sempre a verdade que é mais complexa. Importante e complexa. Mas mesmo que relevante de nada adianta se não atrair o público. E para atrair facilmente o público precisa-se de coisas fáceis também. De um motivo de medo simples e distantemente perto. De alguns eventos catastróficos aqui e ali, mesmo que não duradouros e mais alguns pertos, mesmo que menores, com o devido exagero. Para que enquanto assistem coloquem as mãos a boca e cerrem os olhos, mas o suficiente para que quando mudarem de canal ainda possam rir em paz. Até porque ninguém gosta de ser disturbado. E eu, um idiota, escrevo como se soubesse de algo. Mas se parece que sei é porque quem lê que na verdade está acostumado com as fáceis verdades. Escrevo porque não sei, escrevo afirmações indagativas. De longe definitivas. Intrigo-me com as coisas, mas sem curiosidade o suficiente para encher-me de fatos. Por isso reflito com os olhos, olhando-me pelo texto enquanto escrevo. Observando o que penso e tentando entender o que de fato eu quero saber. Eu não sou capaz de fazer nada, mas ao mesmo tempo eu sou capaz de fazer tudo. Fazer tudo que sou capaz de fazer, porque se não sou capaz e não tem como fazer não tem porque preocupar-me com isso. A menos que eu decida aprender, mas quem tem tempo para isso? Obviamente eu tenho, senão não estaria parado, sozinho, em frente ao computador. O mesmo tempo que poderia usar para acessar qualquer informação. E escolho usá-lo para acessar a mim mesmo, porque viver dentro da minha cabeça não é o suficiente para minhas feridas narcisistas se recuperarem. E com o mesmo âmbito discuto no começo o mundo e a postura dos meus ídolos, porque assim me sinto maior. Melhor. Mesmo sem fazer nada de fato. Parado. E fechado dentro de mim mesmo. Então é pelo menos proveitoso que me feche exposto em uma página, porque assim pelo menos eu posso ser contestado, quando a vontade de outrem se encontrar com o acaso. Assim a quem veja o que penso, pensei ou pensava, que diga em palavras altas e claras: “Até quando vai ficar sentado?”.


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