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  • Foto do escritor: àliteração.
    àliteração.
  • 17 de fev. de 2018
  • 4 min de leitura
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Eu lembro que quando eu era criança, eu pensava no que eu seria quando chegasse na adolescência, no que eu seria quando eu chegasse no ensino médio. Lembro das coisas que eu dizia que ia fazer quando chegasse nessa idade ou nessa “fase” da minha vida. Lembro que eu dizia que quando chegasse no primeiro ano do ensino médio, eu ia arrumar um emprego. Ia economizar dinheiro para poder ir de ônibus todo fim de semana para um lugar novo, para conhecer gente, para viver coisas novas, para aprender coisas novas ou simplesmente para curtir com as minhas amigas. Eu queria essa independência e essa coisa de poder escolher o que fazer, quando fazer, onde fazer… ainda mais porque eu teria meu próprio dinheiro. Eu falava que queria ir sempre à praia para realmente aprender a surfar. Eu queria ser boa no Slackline line também... Sonhava em conhecer as cidades próximas de onde eu moro, sonhava em ter um monte de amigo por aí… Eu conseguia me imaginar falando com um caiçara velhinho na beira da praia, me ensinando coisas sobre o mar, a maré e tudo que ele tinha aprendido vivendo na praia. Eu conseguia me imaginar naqueles campings na beira de estrada, falando com uns hippies sobre a vida e ouvindo eles me contando suas experiências de uma vida sem rumo. Eu conseguia me imaginar no interiorzão, aprendendo com uma mulher alterna sobre plantas medicinais e sobre coisas que ela tinha aprendido vivendo no campo. Eu me imaginava indo à noite naqueles cafés em São Paulo, falando com estranhos, ouvindo uma música boa e vendo arte ao meu redor. Eu imaginava que eu ia fazer trabalho voluntário com animais, com pessoas. Eu imaginava que eu talvez entrasse em uma ONG que pudesse ajudar o mundo de alguma forma. Lembro que dizia que até o final do ensino médio eu seria poliglota e poderia, finalmente, viajar o mundo todo sem problemas quando acabasse a escola. Lembro que eu dizia que minha meta seria ler um livro por semana. Queria ler todos os livros de Freud e de muitos filósofos. Sempre tive uma paixão por conhecer e por pensar nesses mistérios do mundo… queria estudar o espaço, teorias bizarras e incríveis, queria estudar Einstein, Freud, Da Vinci… Queria ser o tipo de pessoa que sabe conversar sobre os signos, que tem base pra falar sobre a vida, sobre a morte, sobre a sociedade, sobre o mundo. Lembro que eu dizia que até o final do primeiro ano do ensino médio, eu já teria escrito, no mínimo, um livro. Eu queria sair por aí fotografando e talvez até ganhando dinheiro com isso. Eu queria me encontrar. Eu gosto de tantas coisas, mas tantas coisas que não consigo nem nomear todas elas. Eu mudo muito e cada dia almejo uma vida diferente. Eu achava que no ensino médio, ia conseguir decidir qual dessas “vidas” era a que mais me definia. Achava que o ensino médio ia me abrir portas, porque eu finalmente poderia ser um ser que as pessoas ouviriam, afinal, ninguém dá ouvidos às crianças. Ninguém leva à sério o que elas dizem… crianças não têm conhecimento e nem vivência suficiente para falar sobre as coisas, não é o que dizem? Então eu imaginava que na adolescência finalmente poderia adquirir esse conhecimento… conhecimento pra poder criticar as coisas, conhecimento pra poder debater sobre diversos assuntos… Queria ser o tipo de pessoa que sabe sobre o céu, as estrelas, o ar, a Terra, o próprio ser… Queria ser o tipo de pessoa que tem opinião própria, que é diferente e que tem seu próprio estilo. Próprio estilo de escrever, próprio estilo de vida, próprio estilo de pensar. Queria ser aquela pessoa que encanta os outros quando conversa. E tudo o que eu sei, é que passo feriados estudando, fins de semana fazendo redações sobre temas que não tem nada haver comigo e que não me fazem pensar verdadeiramente sobre nada. Sei que aprendo mais sobre o mundo na internet, (o que é uma perda de tempo no dia a dia pois ocupa muito tempo, do qual poderíamos estar estudando, segundo… a maioria dos adultos que conheço) do que na escola. Sei que a última vez que li um livro foi nas férias, e sei que ganhei anotação por não ter feito lição de casa nesse período de descanso também. Sei que aprendi mais lendo quatro livros do Bernard Cornwell sobre a Guerra dos Cem Anos do que aprendi nas minhas aulas de história. Sei que aprendi a escrever melhor lendo livros desde pequena do que nas aulas de gramática, onde eu aprendo o que é uma oração subordinada, afinal, o que é isso mesmo? Não me pergunte. Estudei pra prova, não me lembro mais. Opa, peguei recuperação… Enfim, isso tudo não é pra criticar a escola em que estudo, e também não justifica o porquê de eu estar indo relativamente mal… Isso são só os pensamentos de uma pessoa que acha um absurdo a gente se perder mais na escola do que se encontrar, a gente se sentir burro porque nossas notas estão baixas, a gente esquecer o mundo e ter que pensar só na prova de amanhã, a gente ter que aprender a eliminar respostas erradas para poder se dar bem quando formos chutar testes… minha adolescência está escorrendo pelos meus dedos, e aqui estou eu, escrevendo um texto enorme por conta própria porque não estou com a mínima paciência de ter que escrever uma dissertação sobre [BLANK] com todos os meus pensamentos em míseras 30 linhas.


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© 2018 por àliteração. Felipe Penteado, Lucas Felpi, Mariana e Sara Nassif.

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