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Quem é você? Essa sempre me pareceu uma pergunta infundada. Você é o que você fala. Você é o que você faz, você é o que você come. Mas se alguém fala, faz e come como você, ele não é você. Tentar se definir pelo que cerca você ou pelo que você cerca é muito superficial. Embora tudo isso junto constitua de certa forma o você, se definir nisso é julgar-se uma casca vazia. Se você é alguma coisa, você é o que você sente. E se você sente hoje, algo que não sentia ontém e que não vai sentir amanhã, é porque você nem sempre é você. Você muda. E muda enquanto ainda é você mesmo. Isso não só pela identidade que se tem ao corpo e a história por ele carregada, mas porque o verdadeiro você é constituído dessa infinidade de uma mutabilidade inconstante e contínua. Quantos mais vocês são, mais você é. Por isso a cada dia que passa você é mais do que nunca. Se hoje você gosta de azul ou vermelho pouco importa, tampouco o que você diz gostar aos outros, o que realmente importa é o que essas cores fazem você sentir. O que elas fazem você pensar. O que elas fazem de você é o que você é. Ou o mais próximo disso. Porque embora muitos olhem para uma chama e sintam seu calor, poucos sentem o seu calor, um calor embutido de todos os calores que você já sentiu. Cada vez que você sente algo, você lembra do que já sentiu e quanto mais você sente, mais você lembra de já ter sentido e lembrado. E não se tratam de lembranças e sensações tão simples quanto você as descreveria. Mais detalhadas do que tonalidades, mesmo que você descreva o seu azul claro, para o outro que sempre viu ciano, não vai ser o mesmo. Por isso, infundada. Tão quase impossível, mas mesmo que real fosse, seria irrisório. O que vale descrever o seu eu de agora se quando você terminar já será outro? E tentar descrever enquanto as mudanças vão acontecendo é tentar mecanizar a beleza da natureza. Conhecer você é um processo orgânico. Paciência, que enquanto você muda eu estou por perto e vou te conhecendo também. No meio tempo a gente ainda dá algumas risadas.

- ninguém